sábado, 18 de outubro de 2008

When music meets cinema...



... And actually, all that I want!
Miss you...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Abre a quem não bater à tua porta!

Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta!

Fernando Pessoa, 1934

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nas tuas mãos...

Eu tinha um trapo,
Desde que me lembro
Esquecido a um canto,
Coçado, roto e usado

Encontrei-o um dia assim
Nem sujo, nem velho,
Unicamente trapo
Num canto esquecido de mim

Peguei nele, sem saber o que fazer
Vi-o por um lado, por outro,
Do avesso e de pernas para o ar,
Trapo tão trapo como só um trapo pode ser.

Dobrei-o, estiquei-o e voltei a dobrar,
Dobrei-o em dois, em quatro
Peguei-lhe por pontas e pelo meio
Atirei-o para um canto, depois de o amachucar

E aquele trapo, nada mais que um farrapo,
Amachucado então revelou
Uma natureza nova
Que tanto me encantou

Peguei nele, novamente, e com cuidado redobrado
Dobrei, enrolei, entalei
E daquele trapo, coçado, roto e usado
Nasceu uma boneca, companheira que havia sonhado

Os dias foram passando
E o encanto acabou
Porque a boneca, com quem havia sonhado,
Nem sequer uma palavra comigo trocou.

Da boneca fiz trapo e do trapo bola
Companhia mais animada,
Em casa, na rua, na escola
Deleite para mim e para quem com ela brincava

Muitos se aproximaram
E eu, contente, a bola lhes passava
Porque aquele trapo, coçado roto e usado,
Me trouxe a companhia que tanto desejava

Muitos passaram, vieram e quiseram jogar
Mas ao verem que era um trapo
Tudo o que tinha para dar
Poucos foram aqueles que não hesitaram em não ficar

Os que ficaram guardo-os comigo
E o trapo, voltou a ser trapo
Coçado, roto e usado,
Esquecido num canto de mim

Um dia, distraído,
Tropecei nele e, sem querer,
Mostrei-o a alguém que passava
E alguém me pediu para, de perto, o ver

Esse alguém olhou para mim
Olhou para o trapo
Olhou para mim e para o trapo
E adivinhou onde faltava aquele bocado

Com mãos de fada e palavras doces
Com pontos de carinho e linhas de sonho
Esse alguém deu ao trapo, coçado roto e usado,
Uma forma que nunca eu havia pensado

Porque o Meu trapo,
Coçado, roto, mal-tratado
Só quando chegou áquela mão
Voltou a ser Coração...
(Ricardo Silva, 2008)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

...

"Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria."

Pablo Neruda
(Obrigado Florbela - @ palavras emaranhadas)